Ponte de lima

quarta-feira, dezembro 13, 2006

A FEIRA EM PONTE DE LIMA E O SARRABULHO TÃO DESEJADO..







A feira quinzenal de Ponte de Lima é a mais antiga feira de Portugal, pelo menos, a mais antiga de que há referência em documento escrito.Dª Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, no foral que deu à vila, em 1125, manda dar protecção aos que vem à feira e aos que dela partem...." et homines qui de cunctis terris uenerint ad feiram et ad illos malefecerit tam eundo quam redeundo pariat LX solidos." Tradução: E se alguém fizer algum mal aos homens que de qualquer terra vierem à feira, tanto na ida como na vinda, pague 60 soldos. Que esta antecedeu o foral não há dúvida; ele põe em foco os privilégios dos que vinham à feira, deixando pressupor que a feira existia anteriormente a 1125. A passagem obrigatória, pela ponte romana, sobre o rio Lima na via romana Bracara-Astúrica de caminhantes, de peregrinos para Santiago de Compostela, de feirantes, todos necessitando de alimentos, albergue e assistência, que teriam de ser dados pela população aglomerada e já fixa, teria propiciado o aparecimento de um nódulo comercial favorecido pelo nódulo geográfico. Durante toda a Idade Média os reis portugueses protegeram, confirmando os privilégios da vila de Ponte, o burgo e a sua feira. A continuidade da feira até aos nossos dias é-nos confirmada, pois, através de diversos documentos emanados da Chancelaria Real. · D. Afonso II confirma em 1212, em Guimarães, a Feira de Ponte de Lima. · D. Dinis , ao dar avença ao concelho de Monção, em 1305 recomenda que essa feira não coincida com as quinzenais de Ponte de Lima. · D. Fernando concede a Ponte de Lima em 1370 feira real. · D. Afonso V em carta régia de 12 de Julho de 1449 confirma ao concelho e homens bons de Ponte de Lima todos os foros, graças, privilégios e liberdades que lhes foram dados pelos reis passados, e os bons usos e costumes que sempre houveram e de que sempre usaram até à morte de el-rei D. Duarte, seu pai. Neste mesmo documento se faz referência à feira. · Em 1485, no reinado de D. João II, se diz nas Cortes que na vila de Ponte de Lima se faz feira cada quinze dias. · No foral de D. Manuel, sem referência explícita à feira, estipulam-se preços e impostos.A partir de 1577 os livros de Vereações da Câmara fazem sucessivas referências à feira.

A nossa feira é do ponto de vista económico, a seguir à de Barcelos, a maior feira do Minho; no aspecto histórico, etnográfico, sociológico talvez seja a mais rica de tradições, a mais castiça de costumes, a que conserva e mantém mais direitos consuetudinários, a que reflecte mais variedade de usos, a que melhor mostra a maneira de ser do nosso povo. Sempre foi e continua a ser uma das mais concorridas do norte de Portugal. Não vinha só gente da vila e arredores. Vinha-se a pé de Caminha e de Coura, pela serra. Vinha gente da Galiza. Quando das Cortes de Lisboa em 1459, os procuradores do concelho de Ponte de Lima, Pero Malheiro e Diogo Lopes, apresentaram requerimento com 12 capítulos entre os quais se destaca o seguinte: "Dizem os procuradores da vila de Ponte de Lima, os de Ponte da Barca e os de Valdevez que os gallegos de Monte Rey, de Milmanda, de Araujo e d'outras partes antigamente sempre costumavam vir à feira quinzenal de Ponte de Lima com suas bestas e mercadorias, levando daqui muito sal e outras coisas...". Através deste documento se prova que à feira de Ponte de Lima não vinham somente as burriqueiras de Prado, os ourives de Braga, as sardinheiras de Darque, os vendedores de linho de Guimarães, os louceiros de Alvarães, de Viana e de Barcelos, os contratadores de gado dos Arcos e da Barca, mas também muita gente da Galiza além de Aveiro, Barroso, de todo o Alto Minho e do Douro Litoral.

Como se chegava à feira? Vinha-se a pé, a cavalo, em carros de bois, de barco, na "Carreira" e até em jangadas. O dia de feira era um dia festivo. As pessoas vinham com os seus fatos domingueiros; os moços de raminho de alfádiga na orelha, a mão munida de guarda-chuva ou de um pau de marmeleiro; as moças com suas saias compridas, com muitos folhos e pregas, chambres cintados, arrecadas de ouro pendentes das orelhas, os cestos enfeitados com ricas toalhas de tear que elas mesmas teceram. Os carros de bois engalanados com arcos de verdura e flores; os animais com os chifres floridos, campainhas no cachaço e o saquinho contra o mau olhado. Alguns garranos (aqueles que levam cavaleiro) com rabos de raposa pendendo da cabeçada, pele de raposa ou lobo assente nos quadris e argolas na sela que tilintam ao fazerem o "travadinho". Os que são para venda vêm em fila (o cabresto do que vai atrás preso na cauda do da frente).


O principal exlibrís em termos gastronómicos é o arroz de sarrabulho á moda de Ponte de Lima




Ingredientes
1/2 kg de carne de vaca (ganso redondo)1/2 kg galinha gorda1/2 kg de costeletas de porco frescas1 osso de assuão fresco150 g de chouriço de carne (caseiro)1/2 coração de porco1/4 kg. de bofe de porco1 kg de arroz1/4 de litro de sangue de porco (ao que se junta um pouquinho de vinagre para não coagular).


Mãos à obra
Num tacho, põem-se as carnes todas a ferver em 3 litros aproximadamente de água fria, juntam-se um pouco de louro, cravinho, noz moscada, sal e pimenta. Deixam-se cozer as carnes muito bem, retirando a espuma que se forma na superfície. Logo que as carnes estejam bem cozidas, retira-se tudo do lume.As carnes depois de arrefecidas são desfiadas.À calda de cozer as carnes, depois de rectificados os temperos, é retirada a gordura que porventura esteja a mais, leva-a novamente ao lume e deixa-se levantar fervura, tendo já acrescentado a água necessária.Junta-se o arroz. Quando estiver meio cozido, juntam-se as carnes desfiadas e o sangue liquefeito. Rectificam-se temperos e deixa-se ferver até o arroz estar cozido completamente. Juntam-se-lhe, então, sumo de limão, cravinho e cominhos em pó.Serve-se, de imediato.Em travessa à parte vão os rojões e as frituras de belouras, chouriça de verde e tripa enfarinhada. Os rojões levam também batata loura, cortada em cubos. As travessas vão guarnecidas com limão às rodas e salsa em ramo.